Erasmo de Rotterdam

“(...) toda a diferença entre um louco e um sábio é que o primeiro obedece a suas paixões e o segundo à sua razão. Eis por que os estóicos proibiram ao sábio as paixões como se fossem doenças. No entanto, são essas paixões que servem de guia aos que seguem com ardor o caminho da sabedoria; são elas que os estimulam a cumprir os deveres da virtude, inspirando-lhes o pensamento e o desejo de fazer o bem. Em vão disse Sêneca, esse estóico arrebatado, que o sábio deve ser absolutamente sem paixões. Um sábio dessa espécie não seria mais um homem, seria uma espécie de deus, ou melhor, um ser imaginário que jamais existiu e jamais existirá; ou enfim, para falar mais claramente, seria um ídolo estúpido, desprovido de todo sentimento humano e tão insensível quanto o mármore mais duro. Que os estóicos se deliciem quanto quiserem com seu sábio imaginário, que o amem à vontade: eles não terão rivais a temer; mas que vão morar com ele na república de Platão, no meio das Idéias ou nos jardins de Tântalo!”

-- Erasmo de Rotterdam, “Elogio da Loucura”